domingo, 19 de julho de 2009

Meu Aniversário de Nascimento Material.


Nasci.

Era um dia 19 de Julho como hoje. Nada de excepcional aconteceu no mundo junto com a minha entrada triunfal, para os familiares.

O homem não pisou na lua, o Brasil não levantou nenhum caneco, ninguém descobriu um continente novo, ou vacina. As fábricas apitaram normalmente, convocando seus trabalhadores, as crianças foram à escola, e o Castelo-Cachambi deu sua volta ao mundo, transportando os passageiros de sempre.

É nessa trivialidade, que por certo reside a tônica e graça da minha existência. Ao invés da espetacularidade de fatos que agora me serviriam para fazer um exercíciozinho de literatura – nem ao menos uma parteira negra e velha me arrancou da alcova uterina – a tarefa de imantar o mundo com uma luz preternatural, em mim mesmo, é o que me coube em vida.

Devo dizer que isso tem marcado alguns capítulos da minha jornada. E aí fica a dúvida se conto ou guardo episódios que para aquele que vê pelo lado de fora são absolutamente banais, mas que na minha saga encarnatória foram tão ou mais espetaculares que a queda da Bastilha, que a invenção da roda, da locomotiva, ou que a descoberta da pólvora.

Alguem acharia digno de destaque eu mencionar o alvorecer do dia em que sentei, ao pé do abacateiro no quintal de minha casa para praticar a sadhana que mudaria de forma radical minha percepção do mundo ?

E minha mãe ensinando-me a cozinhar arroz, fazer café, para dar-lhe uma mãozinha num período em que precisou trabalhar fora ?

E a alquimia de combinar notas, na criação de novos universos musicais, sacro ofício que me foi outorgado pelos Gandharvas, que são os deuses da arte das musas ?

É melhor parar por aqui, eu que havia dito que fugiria da literatura forçada sôbre acontecimentos tão banais, à olhos alheios.

Nada de prosear pormenores do primeiro beijo, primeira transa, primeiro dia na escola, as férias em Coroa Grande, ou então, eu menino escondido no quartinho lendo a história do Pinóquio – aquela criatura que deixa de ser madeira para ser humano...

Se querem saber, nem ao menos planejei o que fazer hoje. Normalmente fico em casa recebendo telefonemas, que vão rareando por conta do meu comportamento de eremita, e quando percebo, é mais um dia que se foi.Mais uma semana que se foi, mais um mês, mais um ano.

Mais 53 anos.


Luiz Castello.


2 comentários:

  1. Qualquer fato na sua vida é digno de destaque para quem te vê como uma pessoa iluminada e linda. Parabéns, irmãozinho!
    Heloisa

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  2. Grato, Heloisa querida.
    Voce, como sempre, descobre dentro desse teu coração amoroso, palavras que comovem e iluminam a gente.
    Meu beijo fraterno.

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