quinta-feira, 30 de julho de 2009

Uma Nova Miragem no Espelho.

Meu querido irmãozinho Alexandre, presenteou-me na semana do meu aniversário, com esse vídeo fantástico de uma das canções do CD "Aos Peregrinos do Ocidente".


sábado, 25 de julho de 2009

No Olho da Rua


No começo dos anos 80, peguei meu acordeon e fui pras ruas do Rio tocar. Saía sozinho, colocava um chapéu de abas caidas, estendia um plástico no chão, com um embornal aberto para as moedinhas, e espalhava livros de filosofia védica.Não vendia os livros, era divulgação, alguns caras enturmavam e ficavam lendo enquanto eu lascava o fole.Nada era premeditado nem seguia uma orientação ideológica definida.Acho que acontece com a maioria dos músicos ; um dia enjoam do esquemão da naite, piram, e vão para as ruas.

A escolha do instrumento, foi casual e prática. Não dava pra sair com um piano debaixo do braço, e violão tem o som fraco, precisa de amplificador.

Nunca fui perseguido ou expulso de nenhum lugar. Certa vez, montei minha “tenda” na estação dos bondes de Santa Tereza, e fui alertado que o dono do bar implicava com quem tentasse parar por ali. O sujeito, que falava portunhol e aparentava meia idade, veio se aproximando devagarinho, sentou perto de mim, e perguntou se eu queria tocar dentro do bar dele no final de semana, logo eu que tava fugindo do esquemão...

Minha aparência de retirante, que ta indo à luta, devia impressionar.

Alguns motoristas quando me viam no ponto, deixavam eu entrar pela porta da frente sem pagar. Músicos de rua, pelo menos dessa época, eram queridos e respeitados pelos passantes.

Meu itinerário era improvisado, e o roteiro musical, idem. Eu me divertia vendo a cara de espanto da galera, quando ouvia, além do Gonzagão, Beatles, MPB, e um “Bolero” estilizado para “xote de Ravel”, que o cabra tinha a irresponsável coragem de mandar.

Cheguei a ser filmado, e nalguma parte do globo, a asa branca deve estar batendo asas do Intermezzo vermelhinho.

Minha maior emoção foi na Praça Saens Pena. Uma senhora de cabelos grisalhos e um impressionante ar de dignidade, ficou me olhando, olhando, e aí perguntou se eu sabia tocar “Saudades de Ouro Preto”.

No final da execução, ela chorava de maneira discreta, fiquei sem saber o que fazer, minha timidez não gosta de chamar muito a atenção. Ela agradeceu, afagou minha cabeça, e foi embora. Não faço a menor idéia de qual fio foi puxado daquele carretel de linhas sensíveis.

Ainda vejo aquela cabecinha grisalha, descendo as escadas rolantes do metrô , até desaparecer no subsolo, como se fôsse o fole do acordeon quando fecha, ao encerrar candidamente uma canção.

Luiz Castello.

domingo, 19 de julho de 2009

Meu Aniversário de Nascimento Material.


Nasci.

Era um dia 19 de Julho como hoje. Nada de excepcional aconteceu no mundo junto com a minha entrada triunfal, para os familiares.

O homem não pisou na lua, o Brasil não levantou nenhum caneco, ninguém descobriu um continente novo, ou vacina. As fábricas apitaram normalmente, convocando seus trabalhadores, as crianças foram à escola, e o Castelo-Cachambi deu sua volta ao mundo, transportando os passageiros de sempre.

É nessa trivialidade, que por certo reside a tônica e graça da minha existência. Ao invés da espetacularidade de fatos que agora me serviriam para fazer um exercíciozinho de literatura – nem ao menos uma parteira negra e velha me arrancou da alcova uterina – a tarefa de imantar o mundo com uma luz preternatural, em mim mesmo, é o que me coube em vida.

Devo dizer que isso tem marcado alguns capítulos da minha jornada. E aí fica a dúvida se conto ou guardo episódios que para aquele que vê pelo lado de fora são absolutamente banais, mas que na minha saga encarnatória foram tão ou mais espetaculares que a queda da Bastilha, que a invenção da roda, da locomotiva, ou que a descoberta da pólvora.

Alguem acharia digno de destaque eu mencionar o alvorecer do dia em que sentei, ao pé do abacateiro no quintal de minha casa para praticar a sadhana que mudaria de forma radical minha percepção do mundo ?

E minha mãe ensinando-me a cozinhar arroz, fazer café, para dar-lhe uma mãozinha num período em que precisou trabalhar fora ?

E a alquimia de combinar notas, na criação de novos universos musicais, sacro ofício que me foi outorgado pelos Gandharvas, que são os deuses da arte das musas ?

É melhor parar por aqui, eu que havia dito que fugiria da literatura forçada sôbre acontecimentos tão banais, à olhos alheios.

Nada de prosear pormenores do primeiro beijo, primeira transa, primeiro dia na escola, as férias em Coroa Grande, ou então, eu menino escondido no quartinho lendo a história do Pinóquio – aquela criatura que deixa de ser madeira para ser humano...

Se querem saber, nem ao menos planejei o que fazer hoje. Normalmente fico em casa recebendo telefonemas, que vão rareando por conta do meu comportamento de eremita, e quando percebo, é mais um dia que se foi.Mais uma semana que se foi, mais um mês, mais um ano.

Mais 53 anos.


Luiz Castello.


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Os 100 Anos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.




Você sabe o que é sair de casa num dia comum, pra assistir uma aula de informática e de repente dar de cara com uma arena montada na praça da Cinelandia, onde artistas de renome internacional apresentam um espetáculo de dança e música, gratuitamente ?

E um dia de atividades banais, transfigurar-se, banhado por uma luz de transcendente alegria ?

A cidade do Rio de Janeiro, na semana do meu aniversário, presenteou-me inesperadamente nesta terça feira, com esse deslumbrante espetáculo, comemorativo dos cem anos do Theatro Municipal.

Ouvi pela primeira vez, ao vivo, o Bolero de Ravel, executado pela Orquestra Sinfônica do Teatro, com a regência do maestro Roberto Minczuk, e paguei meu king kongzinho, debulhando-me em lágrimas no meio da multidão.

Tô nem aí... cheguei na idade em que, reprimir emoções pode significar a explosão do relógio, cá no mediastino. E teve mais ;

A soprano coreana Sumi Jo, com seus agudos de tirar o folego, provocou na numerosa platéia, um vendaval de aplausos e “bravos”.

O tenor Marcelo Alvarez, produziu igual reação - ambos, tenor e soprano, faziam sua estréia na temporada carioca, disse o maestro Minczuk - e sem dúvida foram as estrelas duma constelação que ainda contou com o Ballet, que dançou trechos da Suite “Quebra Nozes”, o Coro do Teatro, e Ana Botafogo com Francisco Timbó, esses dois infelizmente não assisti, por terem bailado no meu horário de curso, ali pertinho na Treze de Maio.

Voltei pra casa contente da vida, pisando em nuvens, como se fôsse um dos bailarinos.

Com certeza, essas efemérides fazem parte do meu sonho de feliz cidade.

Ah, Rio de Janeiro, como eu gosto de você !!!

Luiz Castello.

Fonte : O roteiro com o nome dos artistas eu peguei aqui na net, não sei se distribuíram o programa, porque quando cheguei o espetáculo já havia começado.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Meu inesquecível aniversário de 50 anos.

Estou na semana de mais um aniversário natalício, por isso nada melhor que contar como festejei o meu Jubileu de ouro.

Passei a noite da comemoração do meu meio século de existência nas dependências da 38 DP de Vila Isabel.

Calma galera ! sou da paz e honro todos os meus compromissos como manda o figurino. Esta cidade do Rio de Janeiro, é que vive me pregando surpresas nem sempre agradáveis.

Foi há 3 anos atrás, e o meu empresário na época fazia niver no mesmo dia que eu ( 19 ), por isso dava-me o luxo de apenas comparecer com a boca pra comer o bolo, uma vez que, o cara bancava tudo, desde os balões de gas até a champagne. Acontece que no meio do caminho entre minha casa e o clube da Light, onde fazíamos baile na época, existe o túnel Noel Rosa, que está sob o comando do traficantado de Vila Isabel.

A ratoeira perfeita, pra bandido nenhum botar defeito. Em cima o morro, embaixo a rua escura e o sinal vermelho parando a freguesia. Levaram o carro com tudo que estava dentro, incluindo teclado, e outras parafernálias de trabalho.

Na delegacia aqueles caras da Swat, gigantescos, parrudões, quando se inteiravam da ocorrência aconselhavam “nunca mais passe por ali, na minha folga, pego a família e passo à kms de distancia desse tunel’.

Pensei sugerir ao traficantado da área montar uma cabine, e cobrar pedágio, nas minhas contas sairia bem mais barato o prejuizo. No dia seguinte, claro, o carro que tinha seguro e rastreador, apareceu todo amassado, e depenado na encosta do morro. E os fortíssimos homens da lei entreolhavam-se e diziam”vamos sair logo do local , que os moleques do movimento passaram de moto duas vezes filmando a gente”. O gato fugindo do rato !

Não cheguei ao local da minha festa, algumas das inúmeras vítimas que estavam na delegacia fazendo BO, cantaram parabéns quando eu lhes contei, meu amado povo carioca que tem uma inesgotável capacidade pra superar com bom humor, o caos social em que os omissos deixaram mergulhar nossa cidade.

Pensando bem, uma histórica marca de 50 anos, deveria de fato ser celebrada de modo emocionante e atualizado. Eu escolheria a caretice de um Maracanã lotado, cercado de Vips, e segurança absoluta, com o roteiro de lágrimas e alegrias repetidas.

Infelizmente, ao mundo de fantasias da Neverland global, os Senhores do karma decidiram que eu enfrentaria a dura realidade das ruas.

Happy Birthday to me !

Castello.