domingo, 31 de julho de 2011

A Apoteose do Futebol


Eu ainda não dormi, desde quando acabou o jogo.

O filme roda sem parar na minha tela mental
.
As embaixadinhas do Felipe, a traquinagem do R10 colocando a bola por baixo da barreira, o sangue na camisa do J. Cesar, a sonata mozartiana tocada com os pés pelo garoto Neymar, símbolo maior da pedreira que enfrentamos, e mais; os gols impossíveis do Deivid - o que perdeu e o que marcou -, a serenidade adquirida em muitas batalhas na Europa de tantas batalhas, que fez o Gauchinho pegar a bola no fundo das redes após seu primeiro gol, pra iniciar a homérica reação.
Um jogo em que os melhores momentos foram todos. Um DVD completo, sem cortes nem edições.

O esquadrão mais deslumbrante da história rubro-negra começou a se delinear assim; no encontro de talentos experientes como Carpegiani, Raul, com as novas gerações de craques made in Gávea, Zico, Adilio, Tita, Junior, Leandro...
Agora temos a batuta do Ronaldinho, Leo Moura, regendo o concerto para a juventude de Diego Mauricio, Negueba, Luiz Antônio, Muralha, Adryan... (guardadas as devidas proporções, mesmo porque, ninguem tinha noção de até onde Zico e cia chegariam)

Os tempos são outros. Antes, a diáspora dos nossos craques não existia, e este é o principal empecilho que vejo para a formação de um novo esquadrão mítico. Se o universo continuar conspirando a favor, não precisarei ficar desfiando eternamente os louros da minha geração vencedora. Doravante "Cessa tudo quanto a antiga musa canta, quando um poder mais alto se alevanta. ..."
Uma nova saga está começando. "Que seja eterna enquanto dure".

Disse no inicio que ainda não dormi, mas na verdade eu acho é que, ainda não acordei.
SRN!

Texto escrito em 29/07/2011
(Luiz Castello)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Com o dinheiro do povo

Carlos Alberto Sardenberg - O Estado de S.Paulo

Mesmo que a abertura da Copa do Mundo de 2014 não aconteça no estádio do Corinthians, o time paulista já está no lucro. E que lucro! Uma arena novinha em folha, totalmente financiada com dinheiro público, parte emprestada, parte dada. Desde já, é o primeiro dono de um belo legado da Copa.

O Corinthians tinha um terreno em Itaquera - doado pela Prefeitura de São Paulo - e um projeto de estádio, para o qual teria de buscar financiamento privado, como, por exemplo, está fazendo o Palmeiras em seu novo Palestra Itália. Ao se tornar estádio da Copa e, possivelmente, do jogo inaugural, depois de arquitetada a desclassificação do Morumbi, o empreendimento corintiano habilitou-se aos financiamentos e incentivos especiais. Mesmo não sendo a sede da abertura, o dinheiro público será providenciado, pois a nova arena permanecerá como única alternativa de jogos em São Paulo.

Eis como ficou o pacote de R$ 820 milhões para a construção de um estádio de 48 mil lugares, com capacidade para ser ampliado para 68 mil:

o BNDES emprestará R$ 400 milhões - isso, claro, não é dinheiro dado, pois o empréstimo terá de ser pago. Mas os juros são subsidiados e as condições gerais, melhores, por ser obra da Copa;

e a Prefeitura de São Paulo concederá um benefício fiscal de R$ 420 milhões. Isso é praticamente dinheiro dado.

A propósito, cabe aqui uma retificação. Tratamos deste assunto em artigos anteriores, salientando, então, que incentivo fiscal não é doar dinheiro. Como isso ocorreria? O empreendimento será administrado por um Fundo de Investimento Imobiliário (FII) e construído pela Odebrecht. O incentivo tradicional seria cancelar a cobrança dos impostos municipais (IPTU e ISS) sobre as atividades diretas ali, no canteiro de obras. Por exemplo: a subcontratação de pequenas construtoras não pagaria ISS.

Mas será mais do que isso. A Prefeitura emitirá uma espécie de títulos - Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento - e os entregará para o FII responsável pela construção da arena. Esse fundo poderá vender os certificados para empresas que tenham IPTU e ISS a pagar. Assim, contribuintes que pagariam seus impostos em dinheiro para a Prefeitura vão entregar certificados comprados do fundo.

Por que fariam isso? Porque obviamente vão adquirir os certificados com desconto no mercado financeiro. Assim, um certificado com valor de face de R$ 1 milhão pode sair por, digamos, R$ 900 mil. O fundo "corintiano" embolsa os R$ 900 mil, cash, e a outra empresa abate R$ 1 milhão de ISS e IPTU. A Prefeitura recebe os títulos e os cancela. E deixa de receber cash os R$ 420 milhões. Todo o dinheiro fica para o fundo aplicar no estádio. Sem precisar devolver nada.

Isso não cabe na expressão "dinheiro dado"?

Há, ainda, um problema aqui. Construtora e Corinthians dizem que o estádio sairá por R$ 820 milhões, a serem cobertos pelo financiamento do BNDES e pelos certificados da Prefeitura. Mas como estes serão vendidos com desconto, o fundo construtor receberá por eles algo em torno de R$ 375 milhões, supondo um deságio de 10%. Feitas as contas, faltarão uns R$ 45 milhões para os R$ 820 milhões orçados. De onde virá isso?

Além disso, se for confirmada como o palco do jogo de abertura (com a Seleção Brasileira), a arena corintiana vai receber mais investimento público. O governo paulista vai colocar algo entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões para instalar ali os 20 mil lugares provisórios e, assim, chegar aos 68 mil necessários para um "estádio abertura de Copa". Como dizem diretores do Corinthians: o timão precisa de um estádio de 48 mil lugares; se a Prefeitura e o governo estadual querem a abertura, têm de pagar por isso.

O governador Alckmin sustenta que o investimento é para obter a abertura da Copa, evento que considera muito positivo para melhorar a imagem mundial de São Paulo. O prefeito Kassab bate na mesma tecla. Ambos acrescentam que o evento trará muita gente e muitos negócios para a cidade.

Será? Começa que essa conta é sempre muito duvidosa. Além disso, o caixa do governo é um só. O dinheiro que se gasta com Copa é subtraído de outras áreas e objetivos. Assim, cabe a questão: o que traz mais benefícios duradouros para o contribuinte-pagador, o evento Copa ou metrô, corredores de ônibus, escolas, hospitais, etc.?

Isso vale para todos os governos estaduais e prefeituras de cidades-sede. Todos colocam cada vez mais dinheiro na Copa.

Políticos e governantes fazem isso alegremente, tendo a certeza de que o povo quer a Copa e vai curti-la. Mas não pode ser assim, tão ligeiro. O certo seria ter colocado a questão claramente ao contribuinte. Assim: "Querem a Copa? O.k., mas é cara. Vai custar tantos bilhões de reais, a maior parte disso virá do governo, ou seja, do seu bolso. E esse dinheiro poderia ir para hospitais e escolas. Tudo bem?".

Não houve debate. Só se pensou naquilo: ganhar a Copa no Maracanã. E muitos governantes garantiram que não colocariam dinheiro em estádios e obras que não fossem permanentes. Agora, estão invertendo as responsabilidades e os compromissos. E nos dizem: "Não queriam a Copa? Então vamos ter de gastar, e rápido, porque já está atrasado".

Como se não fossem responsáveis por nada disso.

Todos os países gostam de fazer Copas e Olimpíadas. Alguns fizeram bem feito, outros foram muito mal. Estamos indo pelos maus exemplos. Mas quem sabe o debate ajude a salvar a Olimpíada.

E, para piorar tudo, a Seleção não joga bola. Já pensaram, gastar um dinheirão, gastar mal e ainda perder?

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Parabéns para a Vida!

Escrevi algumas palavrinhas para dedicar às pessoas amigas que sempre lembram do meu aniversário, com carinho.

Parabéns para a Vida!

Na matemática da vida, o mais e menos operam de acordo com a percepção de cada um. De certo, depois de atingir a "idade do entRa" (40, 50, 60...), a escala passa a ser regressiva. Entretanto, numa visão dilatada da realidade, posso farejar em cada aniversário natalício, mais um passo em direção ao além de mim.

Dos ritmos com os quais a natureza rege nossa existência (nascer, crescer, morrer), o morrer é o menos compreendido, e o mais boicotado. Enganam-se, os que contrapõem - vida x morte. O antípoda da morte é o nascimento. A vida goza de plena soberania, é a hospedeira suprema de todas as páginas do universo.

A natureza cumpre seus ciclos, sem amargura. A manga que amadurece no pé, despenca, e apodrece no capim, representa o fim de uma etapa, para o recomeço de outra, contida na semente. A morte de uma fruta, significa, o nascimento de um pomar. Sem a explosão do ovo, nossos céus não abrigariam o voo brejeiro dos pássaros, a lagarta morre, para as borboletas enfeitarem nossos jardins.
Por que, então, na vez dos seres humanos - síntese aperfeiçoada de todos os processos - seria diferente?

O misterioso enredo da vida-conciência nos reserva um final feliz. Final?
Qual o quê!
A seguir: Cenas dos próximos capítulos...


(Luiz Castello)