quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tiririca, analfabeto?


Tiririca não seria o primeiro analfabeto a ocupar uma cadeira na câmara federal. O legendário cacique xavante Mário Juruna – aquele que andava com um gravador debaixo do braço, registrando as promessas dos políticos, pra depois cobrar – conseguiu essa proeza, ao eleger-se deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro, em 1982.

O jornalista e escritor baiano, Sebastião Nery, no seu livro autobiográfico “A Nuvem – 50 anos de história do Brasil”, revela:

“Ele morava no 1º andar, com doze filhos, eu no 5º, na quadra 202 Norte, dos deputados, em Brasília. Quase toda manhã, sempre entre as nove e as dez, ele chegava com um punhado de jornais, tocava a campainha, todo solene, não cumprimentava ninguém, apenas perguntava:

-- Nerú tá?

Ia direto para o escritório, jogava os jornais na mesa, trancava a porta:

-- Nerú, lê jornal pra Juruna. Jornal fala de Juruna?

Eu já tinha lido alguns, olhava rápido os outros, lia, marcava o nome dele em lápis vermelho, ele rasgava o pedaço, dobrava, punha no bolso e saía.
Este é um segredo que lhe jurei guardar enquanto ele vivesse. Cumpri.

Um índio genial

Na Câmara, Juruna entregava os recortes à sua assessoria, como se fosse ele que tivesse lido, dizia o discurso que ia fazer, como queria fazer, escreviam o discurso para ele, liam, reliam, ele ia para a tribuna e enganava 500 políticos que se consideravam muito mais sábios e espertos do que ele.

Como se estivesse lendo, Juruna ia falando e pondo as folhas ao lado, uma a uma. Não lia nenhuma. Mais ia falando mais ou menos o que estava em cada uma. É só conferir nas notas taquigráficas da Câmara. O que ele falava era mais ou menos o que estava escrito, mas não era o que estava escrito, porque Juruna não sabia ler, só escrevia o nome. Era um genial analfabeto.

Um dia, em Roma, muito tempo depois, à beira de um Brunello di Montalcino, contei essa história a Ulysses Guimarães. Ele ficou besta:
- Que índio filho da puta. Me enganou quatro anos.”

O índio deu uma tanga arriada nos letrados do Congresso Nacional, hahaha!

(Luiz Castello)

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