O blog “Um que tenha”, possuidor de riquíssimo acervo de musica popular brasileira, disponível para downloads, “não existe mais”. As informações são desencontradas, mas navegando por mares internéticos, constatei alguns protestos que levam a crer que foi tirado do ar no dia 20/08/2009.
Certa vez, eu tomava um cafezinho na loja do palheta, no centro da cidade, onde se passava o mais gostoso cafezinho do mundo, e quando olhei pro lado, dei de cara com o multi-instrumentista, e compositor Egberto Gismonti.
Depois de derramar sôbre ele um monte de abobrinhas características da tietagem, comentei à respeito da dificuldade em achar seus discos nas lojas, em especial, os mais antigos. Egberto então falou-me que havia disponibilizado sua obra para ser baixada na net, o que deixou-me surpreso, pois na época eu nem sonhava em ter um PC, desfamiliarizado estava eu, em relação à esses novos meios de comunicação entre o artista e seu público.
Cabe agora perguntar ; se o autor libera, quem, em nome de quem, tira a obra de circulação?
A questão está posta ; Download X Direitos Autorais.
O download, filho da nova tecnologia que invadiu nossas casas sem pedir licença, e os direitos autorais e de gravação, ainda sob a batuta dos velhos contratos, firmados durante o reinado das grandes Companhias de Disco.
Tenho acompanhado algumas tentativas de atualização das regras entre artista, gravadora e internet, e praticamente em todas elas se defende a velha estrutura montada pela indústria fonográfica, incapaz de se adaptar aos novos rumos, como se fosse possível fazer o galo voltar à viver dentro do ovo. O projeto de lei do senador Azeredo, que restringe a liberdade dos internautas, chega a ser ridículo, para não dizer perigoso.
Enquanto as respostas flutuam sem direção certa, deixarei linkado na nossa blogosfera o “Um Que Tenha”, como presença viva de uma ideia generosa, que disponibilizou inúmeros tesouros musicais ameaçados de serem apagados da memória dos brasileiros – muitas dessas relíquias encontra-se fora de catálogo.
O “Um Que Tenha”, ganhou respeito e admiração por parte dos próprios artistas, alguns pediam ao Fulano Sicrano – assim apresentava-se o dono do blog – para linkar seus trabalhos, como forma de divulgação.
Criou-se no mundo virtual, o mito da internet democrática, que é fantasioso. A internet está hospedada no sistema capitalista, que não recua diante dos seus interesses de lucrar acima de todas as coisas.
Nesse ponto, o modo capitalista de ser, não se contradiz.
Onde houver capitalismo, haverá sempre uma Democracia Virtual.
Luiz Castello.