quarta-feira, 28 de março de 2012

Chico Anysio


Chico Anysio - o maior humorista do Brasil, de todos os tempos - gostava e entendia de futebol. Chegou a atuar como comentarista em estações de rádio e tv. Escreveu textos retratando o velho esporte bretão, reinventado pelos brazucas. Selecionei um desses, para homenagear o gênio do humor brasileiro. ( Luiz Castello)


NOMES IMAGINATIVOS

Eu só vejo TV a cabo e além do Universal Channel - meu preferido - e do Warner Channel, minha segunda opção, eu paro nos canais esportivos, ou seja: SporTV e SporTV2, além dos dois canais ESPN. Está nos seus estertores a 39ª edição da Copa São Paulo de futebol para juniors. Jogadores entre 15 e 18 anos, o que os locutores chamam de “o futuro futebol a ser exportado”.
Eram, inicialmente, 88 times divididos em 22 grupos de 4. Os 22 vencedores de cada grupo e os 10 segundos colocados de melhor índice técnico, passaram para as oitavas de final e, desses 32, em encontros “mata-mata”, sobraram 16 – os 16 melhores.
Foi ai que eu comecei a prestar atenção nos jogos e descobri que além de não ver nenhum jogador reluzir a ponto de se admitir sua exportação, há uma falta de imaginação absoluta nos nomes dos meninos. Não há um time que não tenha jogador chamado Thiago, Diego, Diogo ou Bruno. Thiago com H, Tiago simples, Thyago ridículo, Tyaggo absurdo, mas parece ser obrigatório haver um Tiago. Mas, ao mesmo tempo, desapareceram os apelidos, marca antiga do nosso futebol, tempo de Pelé, Escurinho, Bigode, Lelé, Biguá, Fio, Michila, Canhoteiro... Lembrei, então, de um número que apresentei no meu primeiro ou segundo show, onde eu falava dos apelidos brasileiros e da uma famosa linha média do Ferroviário, no Ceará: Redondo, Peru e Cacetão. Esta linha média hoje, deve ser: Tiago Paulista, Diego Carioca e Bruno Gaucho. A antiga era feia, mas muito mais interessante, principalmente quando o comentarista fazia suas observações:
- O Ferroviário está jogando errado, colocando Redondo avançado e recuando Peru. Até as crianças sabem que o lugar de Redondo é atrás; Peru é que é na frente. Redondo tem que abrir para Cacetão penetrar, senão não vai sair um gol.
Redondo, Peru e Cacetão. Simplesmente inesquecível. Hoje, se o juiz expulsar um Thiago qualquer ou qualquer Diego, não acontece nada, mas naquele tempo do Ferroviátio era maravilhoso quando havia uma expulsão. O repórter comunicava ao locutor que transmitia o jogo:
- Alô, Fulano. O juiz acabou de botar o Cacetão pra fora.

Chico Anysio