Está fazendo uma semana que eu vi Paul McCartney. Durante um bom tasco de tempo, minha cronologia será, certamente, pautada pelo antes e o depois do Macca no Engenhão.
Da minha janela, vejo o arco do leste superior do estádio, e a fita roda de novo sem parar.
Os Beatles pontuaram um recorte da minha história, com tanta visceralidade, que chego a ficar pálido de espanto.
Lá, do alto das cadeiras, ouvindo e cantando junto, as canções eternas, e principalmente, vendo aquele rosto ainda cabeludo, que mudou a minha cara, até hoje também cabeluda, muitos outros rostos ressurgiram no meu telão mental.
Meu primo Marcolino, que ensinou-me os primeiros acordes de violão. Jorge beiçola, que trazia os vinis da loja onde trabalhava, e tocávamos na vitrola ABC Isabela com o maior cuidado, para retorná-los sem arranhões (claro que eu e meu irmão enchíamos o saco de nosso pai para comprá-los depois). E mais, Jorge Pinto, Quincas, Serginho marraio, exímio violonista, todos levados pela torrente da vida – sabe-se lá para onde - e que me fizeram chorar de saudade no escurinho do estádio.
Estranhos foram os meus dias seguintes. A felicidade tem uma química inebriante. Seria pego em qualquer antidoping, a dificuldade estaria na hora de identificar nas veias e artérias, o tipo de droga injetada.
Farei exame de sangue na quarta feira, para rastrear a causa de umas ziquiziras que andam aparecendo sem serem convidadas, e penso como certos procedimentos da medicina ainda caminham na idade média, a começar pela coleta dolorosa da agulha na veia.
Seja lá o que der no exame, e apesar do avanço tecnológico, o certo é que, ainda não inventaram uma parafernália capaz de detectar as células da felicidade na nossa corrente sanguínea.
De uma semana pra cá, elas se espalharam sem freio, por todos os fios dessa minha caixa de ressonância física.
(Luiz Castello)