Uma noite, enquanto dormia, o ar desandou a abandonar o meu corpo.
Eu me via entrando num tubo (o misterioso túnel), e à medida em que o ar saia do corpo, mais eu avançava pelo turbilhão. Notei que já ultrapassara a metade do insólito percurso, agora pontilhado de estrelas, quando uma voz dentro da minha consciência sugeriu "volta, você ainda pode ficar lá se quiser".
Acordei puxando fortemente o ar, como se os pulmões estivessem vazios de oxigênio, e percebi tudo.
Na troca desmesurada de posições, comum ocorrer nas nossas noites de sono, o travesseiro foi parar sobre minha cabeça. Estava de fato morrendo asfixiado.
Fiquei estático por alguns instantes, rezei a oração do Pai Nosso, e as cenas da família dando por minha falta pela manhã, invadiram a imaginação. Chorei, antes de ser embalado por uma indescritível onda de paz.
Morrer é passear de barco num lago sereno.
Luiz Castello